Guia Sobre Bitcoin Tokenizado na Ethereum
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Guia Sobre Bitcoin Tokenizado na Ethereum

Guia Sobre Bitcoin Tokenizado na Ethereum

Intermediário
Publicado em Aug 14, 2020Atualizado em Dec 12, 2022
11m

Explicação simplificada

Bitcoin Tokenizado é uma maneira de usar bitcoin em outras blockchains.

Mas espere, o Bitcoin já não é ótimo? De fato é! Ele tem casos de uso sólidos e já atua como uma espécie de bem público. Ao mesmo tempo, seus recursos intencionalmente limitados deixam pouco espaço para mais inovações.

O que mais podemos fazer com o Bitcoin? Alguns Bitcoiners afirmam que a proposta do Bitcoin já é boa o suficiente. Por outro lado, outros acreditam que devemos encontrar maneiras de usar Bitcoin em outras blockchains. E é aqui que chegamos ao BTC tokenizado na Ethereum.

Por que tokenizar o Bitcoin? Isso faz sentido? Como o Bitcoin tokenizado é criado? Como obter BTC tokenizado? Continue a leitura para saber mais.


Introdução

O Bitcoin é normalmente visto como um “ativo de reserva” ou reserva de valor no setor de criptomoedas. Como resultado, ele tem a maior adoção, melhor liquidez, maior volume médio de trading e continua sendo a principal criptomoeda por capitalização de mercado. Algumas pessoas acreditam que não há necessidade de nenhuma outra criptomoeda além do Bitcoin. O argumento deles é que o Bitcoin pode atender a todos os casos de uso que as altcoins estão propondo.
No entanto, a tecnologia blockchain está se desenvolvendo em muitos segmentos diferentes. A evolução das Finanças Descentralizadas (DeFi) oferece inovações e aplicações financeiras para a tecnologia blockchain. Esses aplicativos descentralizados (DApps) são executados em redes públicas e permissionless (sem permissão). Eles permitem transações financeiras trustless sem a necessidade de um intermediário ou coordenador central. Embora a ideia de DeFi seja agnóstica em relação à blockchain, ou seja, pode acontecer em qualquer plataforma de contrato inteligente, a maior parte destas atividades está acontecendo na Ethereum
O Bitcoin é o núcleo do mercado de criptomoedas mas ainda não se beneficia de todos os desenvolvimentos que acontecem em outras partes do ecossistema. Alguns projetos estão trabalhando para resolver esse problema. 
Existe uma maneira de usar bitcoin para mais aplicações, mantendo a rede Bitcoin intacta? Bem, o crescimento do bitcoin tokenizado na Ethereum sugere que há uma demanda por ele.


O que é Bitcoin tokenizado?

Antes de começarmos, há algo que devemos esclarecer para evitar confusão. Se você já leu nosso artigo O que é Bitcoin? , sabe que Bitcoin com B maiúsculo é a rede, e bitcoin com b minúsculo é a unidade de conta.
A ideia de tokenização do bitcoin é relativamente simples. Você bloqueia o BTC por meio de algum mecanismo, cria tokens em outra rede e usa o BTC como um token específico daquela rede. Cada token na outra rede representa uma quantidade específica de bitcoin. O vínculo entre os dois deve ser mantido e o processo deve ser reversível. Em outras palavras, deve ser possível destruir esses tokens e obter os bitcoins “originais” desbloqueados na blockchain do Bitcoin.
No caso da Ethereum, são tokens ERC-20 que representam o bitcoin. Dessa forma, é possível fazer transações estipuladas em bitcoin na rede Ethereum. Isso também torna os bitcoins programáveis – como qualquer outro token na Ethereum.
É possível consultar a soma total atual de bitcoins tokenizados na Ethereum no site btconethereum.com.


Em julho de 2020, havia cerca de 15.000 BTC tokenizados na Ethereum. Pode parecer muito, mas é insignificante em comparação com os ~18,5 milhões que compõem o fornecimento em circulação. No entanto, é apenas o começo.
Vale notar que sidechains e soluções de Layer 2 como a Bitcoin Lightning Network ou Liquid Network também visam enfrentar desafios semelhantes. Algo fascinante é que há mais de dez vezes mais bitcoin na Ethereum do que na Bitcoin Lightning Network. 

Ainda assim, a competição entre essas diferentes soluções não é tão direta – não é um jogo de soma-zero. Na verdade, muitos não as consideram concorrentes e sim complementares. Projetos com moedas tokenizadas oferecem mais opções aos holders (detentores) de bitcoins, enquanto projetos sem tokenização melhoram a infraestrutura de modo geral. Isso proporciona mais integração, o que beneficia o setor cripto como um todo.

Tudo isso parece interessante, mas qual é o objetivo? Primeiro, vamos discutir porque é interessante tokenizar Bitcoin.


Por que tokenizar Bitcoin na Ethereum?

O design do Bitcoin é propositalmente simples. Ele foi projetado para algumas funções específicas e as faz muito bem. No entanto, essas propriedades vêm com limitações inerentes.

Embora a maior parte do valor esteja no Bitcoin, ele não se beneficia muito das inovações que estão surgindo em outros segmentos da indústria de moeda digital. Tecnicamente, é possível executar contratos inteligentes na blockchain do Bitcoin, mas o escopo é bem limitado em comparação com a Ethereum ou outras plataformas de contratos inteligentes. 
A tokenização de bitcoins em outras blockchains pode aumentar a utilidade da rede. Como? A tokenização oferece funcionalidades que não são originalmente compatíveis com o Bitcoin. Ainda assim, as funcionalidades principais e o modelo de segurança do Bitcoin permanecem intactos. Outras possíveis vantagens são maiores velocidades de transação, fungibilidade e privacidade.
Existe um outro motivo potencial. Um dos principais aspectos do setor DeFi é o conceito de composibilidade. Isso significa que, uma vez que todos esses aplicativos estão sendo executados na mesma camada de base pública, open-source e permissionless, eles podem trabalhar perfeitamente uns com os outros. 

Muitos consideram a adição do Bitcoin à essa camada de desenvolvimento de aplicações financeiras, uma perspectiva muito interessante e promissora. Com isso, podem surgir muitas novas aplicações que usam bitcoin e que não seriam possíveis de outra forma.


Como funciona a tokenização do Bitcoin?

Existem muitas maneiras de tokenizar o Bitcoin na Ethereum e em outras blockchains. Todas elas apresentam variados graus de descentralização, diferentes suposições sobre confiança e riscos e mantêm o vínculo dos tokens de formas distintas.
Os dois tipos principais são classificados como custodial e não custodial. O primeiro tipo envolve um custodiante centralizado e os tokens também podem ser emitidos por esse participante. Isso introduz o risco de contraparte, já que a entidade que armazena os bitcoins deve ser confiável (e deve permanecer no mercado). Por outro lado, esta implementação pode ser considerada a mais segura das alternativas.
As outras soluções são um pouco diferentes. Não há necessidade de uma entidade confiável, pois os processos automatizados on-chain são responsáveis pela emissão e pela queima dos tokens. Os ativos colaterais são bloqueados e os tokens são criados na outra blockchain através de algumas funções on-chain. Os fundos são bloqueados on-chain (na blockchain) e o desbloqueio ocorre quando os tokens são destruídos. Embora esse processo elimine os riscos da contraparte, ele aumenta os riscos de segurança. Por quê? Neste caso, o peso do risco recai inteiramente sobre os ombros do usuário. Se ocorrer um erro de usuário ou erro de contrato que ocasione a perda dos fundos, é muito provável que a perda seja permanente.


Exemplos de bitcoins tokenizados

Custodial

Constituem uma parte significativa do fornecimento atual de bitcoins tokenizados. A maior quantidade de valor bloqueado está em Wrapped Bitcoin (WBTC). Como isso funciona? Os usuários enviam seus bitcoins para um custodiante centralizado que os mantém em uma carteira de armazenamento a frio (cold storage) de multisignature  e emite tokens WBTC em troca. É importante notar que este processo requer a comprovação de identidade, conforme os regulamentos de KYC/AML. Este método requer confiança na entidade que está criando o token, mas também oferece alguns benefícios em termos de segurança.
A Binance também tem uma versão tokenizada do BTC, chamada BTCB. É um token BEP-2 emitido na Binance Chain. Se quiser experimentar, pode negociá-lo na Binance DEX.


Não custodial

As soluções não custodiais funcionam totalmente on-chain, sem qualquer envolvimento de um custodiante centralizado. Em termos simples, são muito semelhantes ao Wrapped BTC. No entanto, em vez de um custodiante centralizado, é um contrato inteligente ou uma máquina virtual (virtual machine) que mantém os fundos seguros e emite os tokens. Os usuários podem depositar BTC e emitir bitcoins tokenizados de maneira trustless e permissionless (ou seja, sem necessidade de confiança e permissão).
Alguns desses sistemas exigem sobrecolateralização, o que significa que os usuários devem depositar um valor de garantia (colateral) superior ao valor de emissão. Isso prepara o sistema para eventos de black swan (cisne negro) e grandes quedas do mercado. Ainda assim, se o valor de colateral cair significativamente, é possível que o sistema não consiga lidar com isso.
A implementação não custodial mais popular é o renBTC. Os bitcoins são enviados para a máquina virtual Ren Virtual Machine (RenVM), que os armazena por meio de uma rede de nodes (nós) descentralizados. Então, a rede emite tokens ERC-20 de acordo com a quantia de bitcoins enviada. 
Outros exemplos notáveis são sBTC e iBTC, que são tokens sintéticos. O colateral desses tokens é garantido pelo Synthetix Network Token (SNX) e não por bitcoin. O que torna o iBTC especialmente interessante é que ele acompanha inversamente o preço do Bitcoin. Ele oferece uma das poucas maneiras não custodiais de criar posições short para o Bitcoin.

Vale lembrar que essas são tecnologias altamente experimentais. Não é de se admirar que as soluções custodiais centralizadas sejam mais populares – geralmente são mais seguras. Naturalmente, também há um risco maior de bugs e erros do usuário, podendo levar à perda de fundos. Ainda assim, esse pode ser o futuro da tokenização, após o aprimoramento da tecnologia.

Essas soluções não custodiais são controladas por processos automatizados, portanto o seu uso é recomendado apenas para usuários avançados. Mas se quiser fazer testes com esses tokens sem se preocupar com o processo de emissão, você pode comprá-los e negociá-los em corretoras de criptomoedas.



Isso é bom para o Bitcoin ou para a Ethereum?

Esta é uma pergunta difícil de responder. Vamos tentar considerar os dois lados do argumento.

Como isso pode ser bom para o Bitcoin? Bem, esse recurso sem dúvida aumenta a utilidade do Bitcoin. Embora muitos argumentem que o Bitcoin não precisa de mais funcionalidades, algumas delas podem ser úteis. Como discutimos anteriormente, os benefícios estão associados ao aumento da velocidade das transações, fungibilidade, privacidade e redução dos custos de transação. Com o lançamento da ETH 2.0, a expectativa é que as transações na Ethereum sejam mais rápidas e mais baratas. Esse recurso também pode ser útil para bitcoins tokenizados na rede Ethereum. 

Por outro lado, alguns argumentam que isso é perigoso para os holders de Bitcoins tokenizados. A opção de tokenização do BTC também envolve abrir mão de sólidos benefícios de segurança que o Bitcoin oferece – uma das propriedades mais desejadas. 

Por exemplo, o que acontece se os bitcoins tokenizados forem roubados ou perdidos devido a um bug do contrato inteligente? Não haveria uma maneira de desbloquear bitcoins bloqueados na blockchain do Bitcoin.

Outro fator a se considerar são as taxas. Alguns argumentam que, se um grande número de usuários começar a transacionar BTCs tokenizados na blockchain da Ethereum, as taxas de transação na rede Bitcoin devem cair. No (muito) longo prazo, o Bitcoin deve ser sustentado apenas por taxas de transação. Se a maioria deles fluir para o ecossistema da Ethereum, a segurança da rede pode ser comprometida. No entanto, isso ainda está muito longe de acontecer e não será um problema por um bom tempo.

Como isso pode ser bom para a Ethereum? Bem, se o Ethereum captura muito do valor do Bitcoin, isso poderia aumentar a utilidade do Ethereum como uma rede global para transferência de valor. De acordo com a pesquisa do Etherscan, uma parte considerável da soma de 15.000 BTC mencionada anteriormente está bloqueada no ecossistema DeFi da Ethereum. 
O bitcoin tokenizado pode oferecer muita utilidade ao setor DeFi na Ethereum. Como? Podem surgir serviços financeiros descentralizados com base em bitcoins tokenizados. Plataformas DEX com base em BTC, mercados de empréstimos, pools de liquidez e tudo o que existe no setor DeFi pode ser estipulado em BTC. O sucesso do bitcoin tokenizado também pode encorajar outros tipos de ativos a migrar para a rede Ethereum.

A maioria dos projetos ainda está nos estágios iniciais e suas tecnologias têm muito espaço para melhorias. Ainda assim, certamente teremos desenvolvimentos interessantes nesta frente.


Considerações finais

Discutimos o que é bitcoin tokenizado e quais as diferentes implementações existentes. O principal incentivo para a tokenização do bitcoin como um token ERC-20 é o aumento da utilidade do Bitcoin. 
Se a rede Ethereum for capaz de capturar uma parte significativa das transações de Bitcoin, podemos ver grandes mudanças no futuro. Seria realista imaginar um cenário de flippening (inversão) entre as duas redes? Qual será a parcela do fornecimento de Bitcoin negociada na rede Ethereum no futuro? Só o tempo dirá. No entanto, toda a indústria blockchain pode se beneficiar da construção de "pontes" entre as duas maiores redes de criptomoedas.