Casos de Uso Blockchain: Identidade Digital
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Casos de Uso Blockchain: Identidade Digital

Casos de Uso Blockchain: Identidade Digital

Iniciante
Publicado em Jul 8, 2019Atualizado em Dec 11, 2023
5m
Entre os muitos casos de usos emergentes da tecnologia blockchain, o gerenciamento e verificação da identidade digital é talvez um dos mais promissores. Somente em 2018, bilhões de pessoas foram afetadas por violações de dados pessoais em todo o mundo. Há uma necessidade inegável de métodos mais seguros de armazenamento, transferência e verificação de informações confidenciais. Nesse contexto, os sistemas blockchain podem trazer soluções valiosas para algumas das dificuldades enfrentadas pela maioria dos bancos de dados centralizados.


Como a blockchain pode ser aplicada a sistemas de identidade digital?

Quando um arquivo é gravado em um sistema blockchain, a autenticidade de suas informações é assegurada pelos vários nós que mantêm a rede. Em outras palavras, um "lote de reivindicações", de vários usuários, é o que sustenta a validade de todos os dados registrados.

Nesse cenário, os nós da rede podem ser controlados por agências autorizadas ou instituições governamentais, responsáveis por verificar e validar os registros digitais. Basicamente, cada nó pode “dar um voto” em relação à autenticidade dos dados, de modo que os arquivos possam ser usados como um documento oficial, porém com maiores níveis de segurança.


O papel da criptografia

É fundamental entender que um sistema de identidade baseado em blockchain não exige o compartilhamento direto ou explícito de informações confidenciais. Em vez disso, os dados digitais podem ser compartilhados e autenticados por meio de técnicas de criptografia, como funções de hashing, assinaturas digitais e provas de conhecimento-zero (zero-knowledge proofs).

Através do uso de algoritmos de hash, qualquer documento pode ser convertido em um hash, que é uma longa seqüência de letras e números. Nesse caso, o hash representa todas as informações usadas para criá-lo, agindo como uma impressão digital. Além disso, instituições governamentais ou outras entidades confiáveis podem fornecer assinaturas digitais para dar uma validade oficial ao documento.

Por exemplo, um cidadão pode fornecer seu documento a uma agência autorizada para gerar um hash exclusivo (impressão digital). A agência pode então criar uma assinatura digital que confirme a validade desse hash, o que significa que ele pode ser usado como um documento oficial.

Além disso, as provas de conhecimento-zero possibilitam que credenciais ou identidades sejam compartilhadas e autenticadas sem revelar nenhuma informação sobre elas. Ou seja, mesmo que os dados sejam criptografados, sua autenticidade ainda pode ser verificada. Você pode, por exemplo, usar as provas ZK para provar que tem idade suficiente para dirigir ou para entrar em algum local, sem revelar a data exata do seu nascimento.


Identidade auto-soberana

O conceito de identidade auto-soberana refere-se a um modelo em que cada usuário tem total controle sobre seus dados, que podem ser armazenados em carteiras pessoais (semelhantes a carteiras de criptomoedas). Neste contexto, pode-se decidir quando e como as informações são compartilhadas. Por exemplo, alguém pode armazenar suas credenciais de cartão de crédito em uma carteira pessoal e usar sua chave privada para aprovar uma transação que envia essa informação. Isso permitiria provar quem é o verdadeiro dono daquele cartão de crédito.

Embora a tecnologia blockchain seja usada principalmente para negociar e armazenar criptomoedas, ela também pode ser usada para compartilhar e validar documentos e assinaturas pessoais. Por exemplo, uma pessoa pode pedir a uma agência governamental que declare seu status como um investidor credenciado e depois transferir a confirmação desse fato para uma corretora por meio de um protocolo de prova ZK. Como isso, a corretora pode ter certeza de que o investidor foi devidamente credenciado, mesmo que não tenha informações detalhadas sobre seu patrimônio líquido ou sua renda.


Potenciais vantagens

A implementação da criptografia e da blockchain na identidade digital pode proporcionar pelo menos dois grandes benefícios. O primeiro é que os usuários podem ter melhor controle sobre como e quando suas informações pessoais são usadas. Isso reduziria muito os perigos associados ao armazenamento de dados confidenciais em bancos de dados centralizados. Além disso, as redes blockchain podem fornecer níveis mais altos de privacidade por meio do uso de sistemas de criptografia. Como mencionado, os protocolos de prova de conhecimento zero permitem que os usuários provem a validade de seus documentos sem a necessidade de compartilhar detalhes sobre eles.

A segunda vantagem é o fato de que os sistemas de identificação digital baseados em blockchain podem ser mais confiáveis que os tradicionais. Por exemplo, o uso de assinaturas digitais pode tornar relativamente fácil verificar a origem de uma reivindicação feita sobre um usuário. Fora isso, os sistemas blockchain tornariam mais difícil a falsificação de uma informação, e poderiam efetivamente proteger todos os tipos de dados contra fraudes.


Potenciais limitações

Como acontece com muitos casos de uso da blockchain, existem alguns desafios envolvidos no uso da tecnologia para sistemas de identificação digital. Sem dúvida, o problema mais difícil é o fato de que esses sistemas ainda seriam vulneráveis a um tipo de atividade maliciosa conhecida como fraude de identidade sintética.

A identidade sintética envolve a combinação de informações válidas de diferentes indivíduos para criar uma identidade inteiramente nova. Cada informação usada para criar uma identidade sintética é precisa, então alguns sistemas podem ser induzidos a reconhecer os falsos como autênticos. Esse tipo de ataque é muito usado por criminosos em fraudes com cartões de crédito. 

No entanto, o problema pode ser atenuado por meio do uso de assinaturas digitais, para que combinações inventadas de documentos não sejam aceitas como registros em uma blockchain. Por exemplo, uma instituição governamental poderia fornecer assinaturas digitais individuais para cada documento, mas também uma assinatura digital comum para todos os documentos registrados pelo mesmo indivíduo.

Outro ponto importante é a possibilidade de ataques de 51%, o que é mais provável em pequenas redes blockchain. Um ataque de 51% tem o potencial de reorganizar uma blockchain, alterando seus registros. Esse problema é preocupante em blockchains públicas, onde qualquer um pode participar do processo de verificação e validação de blocos. Felizmente, as blockchains privadas podem reduzir a probabilidade desses ataques, pois elas só incluiriam validadores confiáveis. No entanto, isso representaria um modelo mais centralizado e menos democrático.


Considerações finais

Apesar das desvantagens e limitações, a tecnologia blockchain tem um grande potencial para alterar a forma como os dados digitais são verificados, armazenados e compartilhados. Enquanto muitas empresas e startups já estão explorando as possibilidades, ainda há muito a ser feito. Ainda assim, certamente veremos mais serviços voltados para o gerenciamento de ID digital nos próximos anos. E, muito provavelmente,a  blockchain terá um papel fundamental nisso.