Como a blockchain pode ser aplicada a sistemas de identidade digital?
Nesse cenário, os nós da rede podem ser controlados por agências autorizadas ou instituições governamentais, responsáveis por verificar e validar os registros digitais. Basicamente, cada nó pode “dar um voto” em relação à autenticidade dos dados, de modo que os arquivos possam ser usados como um documento oficial, porém com maiores níveis de segurança.
O papel da criptografia
É fundamental entender que um sistema de identidade baseado em blockchain não exige o compartilhamento direto ou explícito de informações confidenciais. Em vez disso, os dados digitais podem ser compartilhados e autenticados por meio de técnicas de criptografia, como funções de hashing, assinaturas digitais e provas de conhecimento-zero (zero-knowledge proofs).
Através do uso de algoritmos de hash, qualquer documento pode ser convertido em um hash, que é uma longa seqüência de letras e números. Nesse caso, o hash representa todas as informações usadas para criá-lo, agindo como uma impressão digital. Além disso, instituições governamentais ou outras entidades confiáveis podem fornecer assinaturas digitais para dar uma validade oficial ao documento.
Por exemplo, um cidadão pode fornecer seu documento a uma agência autorizada para gerar um hash exclusivo (impressão digital). A agência pode então criar uma assinatura digital que confirme a validade desse hash, o que significa que ele pode ser usado como um documento oficial.
Identidade auto-soberana
Embora a tecnologia blockchain seja usada principalmente para negociar e armazenar criptomoedas, ela também pode ser usada para compartilhar e validar documentos e assinaturas pessoais. Por exemplo, uma pessoa pode pedir a uma agência governamental que declare seu status como um investidor credenciado e depois transferir a confirmação desse fato para uma corretora por meio de um protocolo de prova ZK. Como isso, a corretora pode ter certeza de que o investidor foi devidamente credenciado, mesmo que não tenha informações detalhadas sobre seu patrimônio líquido ou sua renda.
Potenciais vantagens
A implementação da criptografia e da blockchain na identidade digital pode proporcionar pelo menos dois grandes benefícios. O primeiro é que os usuários podem ter melhor controle sobre como e quando suas informações pessoais são usadas. Isso reduziria muito os perigos associados ao armazenamento de dados confidenciais em bancos de dados centralizados. Além disso, as redes blockchain podem fornecer níveis mais altos de privacidade por meio do uso de sistemas de criptografia. Como mencionado, os protocolos de prova de conhecimento zero permitem que os usuários provem a validade de seus documentos sem a necessidade de compartilhar detalhes sobre eles.
A segunda vantagem é o fato de que os sistemas de identificação digital baseados em blockchain podem ser mais confiáveis que os tradicionais. Por exemplo, o uso de assinaturas digitais pode tornar relativamente fácil verificar a origem de uma reivindicação feita sobre um usuário. Fora isso, os sistemas blockchain tornariam mais difícil a falsificação de uma informação, e poderiam efetivamente proteger todos os tipos de dados contra fraudes.
Potenciais limitações
Como acontece com muitos casos de uso da blockchain, existem alguns desafios envolvidos no uso da tecnologia para sistemas de identificação digital. Sem dúvida, o problema mais difícil é o fato de que esses sistemas ainda seriam vulneráveis a um tipo de atividade maliciosa conhecida como fraude de identidade sintética.
A identidade sintética envolve a combinação de informações válidas de diferentes indivíduos para criar uma identidade inteiramente nova. Cada informação usada para criar uma identidade sintética é precisa, então alguns sistemas podem ser induzidos a reconhecer os falsos como autênticos. Esse tipo de ataque é muito usado por criminosos em fraudes com cartões de crédito.
No entanto, o problema pode ser atenuado por meio do uso de assinaturas digitais, para que combinações inventadas de documentos não sejam aceitas como registros em uma blockchain. Por exemplo, uma instituição governamental poderia fornecer assinaturas digitais individuais para cada documento, mas também uma assinatura digital comum para todos os documentos registrados pelo mesmo indivíduo.
Considerações finais
Apesar das desvantagens e limitações, a tecnologia blockchain tem um grande potencial para alterar a forma como os dados digitais são verificados, armazenados e compartilhados. Enquanto muitas empresas e startups já estão explorando as possibilidades, ainda há muito a ser feito. Ainda assim, certamente veremos mais serviços voltados para o gerenciamento de ID digital nos próximos anos. E, muito provavelmente,a blockchain terá um papel fundamental nisso.