Conteúdo
- Introdução
- Criptografia assimétrica e segurança na Internet
- Computadores clássicos
- Computadores quânticos
- Criptografia resistente à quântica
- Computadores quânticos e a mineração de Bitcoin
- Considerações finais
Introdução
Este artigo apresenta uma introdução sobre a diferença dos computadores quânticos e dos computadores comuns e quais riscos eles representam para as criptomoedas e a infraestrutura digital.
Criptografia assimétrica e segurança na Internet
Uma chave pública pode ser compartilhada livremente e usada para encriptar informações, que só podem ser decriptadas com a chave privada correspondente. Isso garante que apenas o destinatário possa acessar as informações criptografadas.
Atualmente, os algoritmos mais modernos usados para gerar o par de chaves são baseados nessas funções matemáticas conhecidas como "trapdoor function". Não é possível encontrar a solução delas em um prazo viável para qualquer computador existente. Até as máquinas mais poderosas, levariam muito tempo para efetuar esses cálculos.
No entanto, isso pode mudar com o desenvolvimento de novos sistemas de computação chamados computadores quânticos. Para entender porque os computadores quânticos são tão poderosos, vamos discutir primeiro o funcionamento dos computadores comuns.
Computadores clássicos
Os computadores que conhecemos hoje podem ser chamados de computadores clássicos. Isso significa que os cálculos são feitos em uma ordem sequencial - uma tarefa computacional é executada e, em seguida, outra pode ser iniciada. Isso se deve ao fato de que a memória em um computador clássico, deve obedecer às leis da física e só pode apresentar um estado de 0 ou 1 (desativado ou ativado).
Existem vários métodos de hardware e software que permitem aos computadores dividir cálculos complexos em partes menores para obter mais eficiência. No entanto, o princípio base permanece o mesmo. Uma tarefa computacional deve ser concluída antes que outra possa ser iniciada.
Vamos considerar o exemplo a seguir, onde um computador deve adivinhar uma chave de 4 bits. Cada um dos 4 bits pode ser 0 ou 1. Existem 16 combinações possíveis, conforme a tabela abaixo:
Um computador clássico precisa adivinhar cada combinação separadamente, uma de cada vez. Imagine ter um cadeado e 16 chaves em um chaveiro. Cada uma das 16 chaves deve ser testada separadamente. Se a primeira não abrir a fechadura, poderá ser a chave da próxima tentativa e assim por diante, até que a chave correta abra o cadeado.
Entretanto, conforme o comprimento da chave aumenta, o número de combinações possíveis aumenta exponencialmente. No exemplo acima, ao adicionar um bit extra ao comprimento da chave, teríamos 5 bits e 32 possíveis combinações. Aumentando para 6 bits, teríamos 64 combinações possíveis. Com 256 bits, o número de combinações possíveis é próximo ao número estimado de átomos no universo observável.
Por outro lado, a velocidade de processamento computacional cresce apenas linearmente. Dobrar a velocidade de processamento de um computador resulta apenas na duplicação do número de suposições que podem ser feitas em um determinado período. O crescimento exponencial supera em larga escala qualquer progresso linear da parte encarregada pela adivinhação.
Aparentemente, a computação clássica não representa uma ameaça à encriptação assimétrica usada pelas criptomoedas e pela infraestrutura da Internet.
Computadores quânticos
Atualmente, existe uma classe de computadores, em estágios iniciais de desenvolvimento, que seriam capazes de resolver esses tipos de problemas de forma trivial - os computadores quânticos. Os computadores quânticos são baseados nos princípios fundamentais descritos na teoria da mecânica quântica, que analisa o comportamento das partículas subatômicas.
Nos computadores clássicos, um bit é usado para representar informações e ele pode ter um estado de 0 ou 1. Os computadores quânticos trabalham com bits ou qubits quânticos. Um qubit é a unidade básica de informação em um computador quântico. Assim como um bit, um qubit pode ter um estado de 0 ou 1. No entanto, graças à peculiaridade dos fenômenos da mecânica quântica, o estado de um qubit também pode ser de 0 e 1 ao mesmo tempo.
Isso estimulou a pesquisa e o desenvolvimento no campo da computação quântica, com investimento de universidades e empresas privadas na exploração desse novo campo promissor. Abordando teorias abstratas e práticas, os problemas de engenharia desse campo, fazem parte da vanguarda da conquista tecnológica humana.
Infelizmente, um efeito colateral do uso de computadores quânticos seria que os algoritmos que formam a base da criptografia assimétrica se tornariam facilmente decifráveis, o que causaria colapso de todos os sistemas que dependem deles.
Vamos novamente considerar o exemplo da chave de 4 bits. Um computador de 4 qubit, teoricamente, seria capaz de obter todos os 16 estados (possíveis combinações) de uma só vez, em uma única tarefa computacional. A probabilidade de encontrar a chave correta seria de 100% no tempo necessário para realizar o cálculo.
Criptografia Quantum-resistant
O surgimento da tecnologia de computação quântica pode comprometer a criptografia que dá suporte à maior parte de nossa infraestrutura digital moderna, incluindo as criptomoedas.
Isso colocaria em risco a segurança, as operações e as comunicações do mundo todo, desde governos e empresas multinacionais até o usuário individual. Não é surpresa que muitas pesquisas estejam sendo direcionadas ao desenvolvimento de contramedidas à tecnologia quântica. Os algoritmos criptográficos que são supostamente seguros contra a ameaça de computadores quânticos, são conhecidos como "quantum-resistant algorithms" (algoritmos resistentes à tecnologia quântica).
Em um nível mais básico, parece que o risco associado aos computadores quânticos pode ser mitigado com a criptografia de chave simétrica por meio de um simples aumento no comprimento da chave. Porém, esse tipo de criptografia foi substituído pela criptografia de chave assimétrica devido aos problemas de compartilhamento de uma chave secreta comum em canal aberto. No entanto, à medida que a tecnologia de computação quântica evolui, a criptografia simétrica pode reemergir como uma opção viável.
A questão do compartilhamento de uma chave comum em um canal aberto também pode ser solucionada com a criptografia quântica. Existe um progresso contínuo no desenvolvimento de contramedidas contra a interceptação. Bisbilhoteiros em um canal compartilhado podem ser detectados usando os mesmos princípios necessários para o desenvolvimento de computadores quânticos. Isso permitiria saber, com antecedência, se uma chave simétrica compartilhada já foi lida ou violada por terceiros.
Computadores quânticos e a mineração de Bitcoin
Considerações finais
O desenvolvimento da computação quântica e a consequente ameaça às atuais implementações de criptografia assimétrica parecem ser apenas uma questão de tempo. No entanto, não é um problema de importância imediata - existem gigantescos obstáculos, em termos de teorias e de engenharia, a serem superados antes da implementação total dessa tecnologia.
Considerando tudo o que está em jogo em termos de segurança da informação, é razoável começarmos a pensar nas contramedidas considerando futuros ataques. Felizmente, já existem diversas pesquisas sendo relacionadas a possíveis soluções que poderiam ser implantadas nos sistemas atuais. Essas soluções, em tese, seriam capazes de proteger a parte mais importante da nossa infraestrutura contra ameaças futuras de computadores quânticos.
Padrões de resistência quântica poderiam ser distribuídos ao público da mesma forma que a encriptação end-to-end foi implementada por meio de navegadores e aplicativos de mensagens. Uma vez finalizados esses padrões, o ecossistema das criptomoedas poderia integrar a melhor defesa possível contra esses vetores de ataque, com relativa facilidade.